terça-feira, 16 de agosto de 2011

ESPECIAL

Dc. Djacy Brandão.


ASSISTÊNCIA SOCIAL NA IGREJA PRIMITIVA E NOS DIAS ATUAIS

O texto de Atos dos Apóstolos, capítulo 6 e versículos de 1-7, nos relata um problema surgido na comunidade cristã em Jerusalém, que provocou uma murmuração. As ofertas eram depositadas aos "pés dos apóstolos" (At 4.34-37; 5.1-2), que com o crescimento dos discípulos começaram a ter dificuldades na administração do trabalho social, visto que estavam divididos entre este ministério e o da palavra e oração.
A murmuração estava no fato de as viúvas gregas serem desprezadas na distribuição diária de alimentos. David S. Dockeryr (2001, p. 608) esclarece que "As mulheres viviam mais que os maridos e ficavam sem parentes próximos que as sustentassem, com isso, ficavam aos cuidados da igreja.”
Tanto no Antigo como no Novo Testamento as autoridades judaicas e eclesiásticas cuidavam do pobre e necessitado que com eles conviviam e dentro da igreja prevalecia o princípio de que não deveria haver nenhum carente entre aqueles que criam. Note-se que Tiago categoriza o cuidado pelos órfãos e viúvas como parte da religião que é pura e sem mancha (Tg 1.27). Paulo também prescreve regras e ordenação: para viúvas que realmente necessitam de sustento diário; para aquelas que devem ser sustentadas pelos filhos e netos; para viúvas que têm 60 anos ou mais; para viúvas mais jovens que devem casar-se; e para mulheres crentes que devem ajudar a sustentar as viúvas (1 Tm 5.3-16).
Uma grande virtude da liderança é a capacidade de ouvir críticas sem ficar melindrado. Há líderes que não suportam críticas e questionamentos, mesmo quando são feitos com respeito e com as melhores das intenções. Os apóstolos não ficaram melindrados, como diz o texto de At 6.2 e diante das críticas agem de forma objetiva, convocando a comunidade para juntos buscarem solução para o problema.
Um fenômeno tem preocupado aqueles que de maneira crítica, lançam seus olhares sobre a prática pastoral na igreja evangélica brasileira e principalmente das Assembléias de Deus com relação ao ministério pastoral. Impondo ao Pastor a figura de um "gestor". O tempo que deveria investir em oração e na leitura devocional da palavra (relação pessoal de comunicação com Deus), e na visitação (relação pessoal de comunicação com os santos), é empreendido agora na administração dos negócios, no acompanhamento das contas, nas visitas às construções e em outras várias atividades impessoais. E isso passar a ser um modelo centralizador e clerical, onde o pastor é o detentor de todos os saberes e habilidades, o único apto, capaz e vocacionado para o exercício com excelência de todos os dons espirituais e ministeriais. Que visão empobrecida, é necessário descentralizar as tarefas e rever as prioridades do ministério pastoral no atual contexto da igreja evangélica brasileira. Os pastores se tornaram super atarefados com a administração. às vezes, a culpa é do pastor (que quer segurar todas as rédeas em suas próprias mãos) e às vezes a culpa é do povo (que exige que o pastor seja um despenseiro de tudo). Em ambos os casos, as consequências são desastrosas. O nível da pregação e do ensino caem, já que o pastor tem pouco tempo para se dedicar ao estudo e à oração e sem falar que nos dias atuais há inversão dos papéis, ou seja, temos pastores fazendo a tarefa dos diáconos, e diáconos realizando a tarefa dos pastores.
Diante do problema, a solução encontrada pelos apóstolos foi a de convocar os discípulos para que escolhessem sete homens com as qualidades necessárias para assumirem a tarefa da distribuição diária (6.3). Estes homens deveriam ter testemunho, ser cheios do Espírito e de sabedoria, embora o termo diáconos (gr. diaconoi) não apareça no texto, muitos estudiosos entendem que aqui foi instituído o diaconato.
Nenhum ministério é superior ao outro. Pelo contrário, todos são ministérios cristãos, ou seja, meios de servir a Deus e ao seu povo que exigem pessoas espirituais, "cheias do Espírito", para exercê-los. A única diferença está na forma que cada ministério assume, exigindo dons e chamados diferentes. Jamais se deve pensar que servir às mesas está num nível mais baixo do que as orações e o ensino.
Se esta verdade e realidade fosse entendida nos dias atuais, muitos diáconos louvariam a Deus pelo que fazem, em vez de viverem reclamando, e de buscarem atividades e posições para as quais não foram vocacionados. Por outro lado, muitos presbíteros, evangelistas e pastores deixariam de olhar para os diáconos com um ar arrogante de superioridade ministerial e não falariam mais, mesmo brincando, “resisti ao diácono e ele fugirá de vós.” Tanto para o serviço ou ministério diaconal, quanto para o serviço ou ministério pastoral, é utilizado o termo grego diaconía (v. 1, 4).

FAREI MENÇÃO AO QUE O PASTOR ALTAIR GERMANO DISCORRE EM SEU BLOG SOBRE A ASSISTENCIA SOCIAL NOS DIAS ATUAIS.

Citaremos algumas reações sempre que o tema "Ajuda aos Necessitados" é abordado, em nosso meio evangélico brasileiro. São eles:

1. Um Grande número de alunos, professores, dirigentes e superintendentes de EBD , obreiros e membros em geral da igreja questionam as poucas ações concretas nesta área (chamada de "social");
2. Líderes de igrejas, aproveitando o tema em evidência, resolvem fazer campanhas de doações e socorro aos necessitados, para não muito tempo depois abandonarem a prática;
3. Percebe-se que muitas igrejas nunca vão além da simples distribuição aleatória de cestas básicas, sem nenhum levantamento das reais necessidades dos beneficiários;
4. Uma ênfase num certo socialismo ou comunismo cristão, fruto de uma interpretação equivocada do tema "Comunidade dos Bens" é dada. Interessante, é que os que defendem teoricamente esta ideia não a coloca em prática, partilhando todos os seus bens com os necessitados;
5. Irmãos, individualmente ou em "grupos", diante do descaso da "instituição" ou da "comunidade cristã" com a ajuda aos necessitados, acabam se achando no direito de administrarem os próprios dízimos e ofertas, não levando em consideração as recomendações (ou determinações) da liderança;
6. Igrejas se mobilizam para prestar socorro às vítimas de grandes catástrofes naturais em outras regiões, mas no seu dia a dia se esquecem de socorrer os seus necessitados (domésticos na fé), e os que vivem em situação de miséria na localidade onde está estabelecida;
7. Para dizer que socorrem os necessitados, algumas igrejas afirmam manter hospitais, escolas, creches, orfanatos e abrigos de idosos funcionando. Acontece que em alguns casos, as condições de atendimento e assistência são muito precárias. As pessoas lá atendidas sofrem de um grande descaso, desumanização e mal tratos;
8. É afirmado ainda por alguns, que a igreja faz o trabalho social muito bem, mas sofre por não divulgá-lo. Entendo que pelo menos os membros deveriam tomar conhecimento das ações em favor dos necessitados;
9. A calamidade dos necessitados se acentuam diante da ostentação e da vida regalada de algumas lideranças, através da aquisição e exibição dos símbolos capitalistas de "poder" e "status ministerial". Na versão e lógica "espirituosa" deste capitalismo selvagem (Teologia da Prosperidade e da Vitória Financeira), quanto mais o pastor ou líder ficar rico (ou pelo menos parecer), mais demonstrará o quanto o seu ministério é abençoado por Deus. Obviamente esta lógica acaba trazendo problemas para alguns líderes de igrejas na atualidade. Por exemplo, podemos citar a necessidade de um pastor precisar de "seguranças". Tal necessidade é resultado direto da ostentação já citada. Citamos ainda o receio que alguns possuem de terem seus filhos ou parentes sequestrados. Não consigo imaginar Jesus, Pedro, Paulo, João, Tomás de Aquino, Agostinho, Lutero, Calvino e outros ícones da fé precisando de seguranças particulares. Alguma (ou muita) coisa está errada. Viver dignamente do evangelho foi trocado por viver esplendorosamente do evangelho;

10. É interessante também afirmar, que diante do exposto no ponto acima, dentro de um mesmo ministério, há líderes que abusam das regalias enquanto outros passam extrema necessidade. A ideia, volto a deixar claro, não é de um socialismo ou comunismo ministerial cristão, falo sim (pois há uma série de fatores subjetivos aqui envolvidos) da necessidade de diminuir a distância "econômica", promovendo um viver digno para todos.
Obviamente, há um bom número de igrejas que fazem um trabalho relevante e exemplar de ajuda aos necessitados.
Não vai adiantar muita coisa (ou nada) tratarmos deste tema, sem refletir sobre a nossa condição (cada um deve assumir a sua responsabilidade), sem discussão, sem propostas de mudanças, sem planos e ações concretas.
Saber sobre e perceber como as coisas estão não é o suficiente. Necessário se faz mobilizar-se para que o nosso discurso religioso e piedoso se torne carne e habite entre nós.

"Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta." (Tg 2.14-17). Até quando ficaremos nesta mórbida e fraca fé?

Auxílio bibliográfico
• DOCKERY, DAVID S. – Manual Bíblico Nova Vida, 2001;
• http://www.prazerdapalavra.com.br.

Postado em 16 de agosto de 2011

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