sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Turquia deporta missionários por “ameaçarem segurança nacional”

 
 Líderes cristãos estão preocupados com o fim do Estado Laico no país


O governo turco está deportando obreiros cristãos estrangeiros trabalhando no país, afirmando que suas atividades religiosas são consideradas “ameaças” ao país. O argumento é similar ao usado pela Rússia desde que entraram em vigor novas leis “antiterrorismo”.

 No início de outubro, o governo da cidade de Izmir prendeu o casal de pastores norte-americanos Andrew e Norine Brunson e negou o acesso deles a advogados consulares. Funcionários do serviço de Imigração, ligados ao Ministério do Interior insistem que eles oferecem “risco à segurança nacional”, mas não conseguiu especificar de que maneira isso ocorre.

 De acordo com o Christian Daily, os missionários residiam na Turquia há 20 anos, dirigindo um pequeno ministério chamado Igreja da Ressurreição de Izmir. Em abril, o casal pediu a renovação de seus vistos de residência, mas não recebeu resposta até dia 7 de outubro. Pelo correio chegou uma intimação para que se apresentassem a uma delegacia e levassem seus passaportes consigo. Foram presos assim que chegaram no local.

 Além dos Brunson, vários missionários estrangeiros foram expulsos da Turquia nos últimos meses. Outro caso recente que chamou atenção foi do canadense David Byle, que não teve o visto renovado e acabou sendo deportado, acusado de representar “perigo para a ordem pública”. Aparentemente, nos dois casos a única atividade feita por eles que poderia representar uma “ameaça” é a pregação do evangelho.

 Após a tentativa de golpe fracassada, o premier Recep Erdogan deu fortes indícios de que deseja que o país volta a ser oficialmente muçulmano, algo que foi abolido em 1923, com a fundação da Turquia moderna. Na última década, o governo turco construiu cerca de 9.000 mesquitas, segundo dados oficiais. Paralelamente, vem restringindo cada vez mais os cultos cristãos.

 A perseguição acirrada revela como os cristãos na Turquia são tratados como cidadãos de segunda classe. Vários de seus direitos são negados e quando as igrejas são atacadas as autoridades não tomam nenhuma providência.

 Os cristãos representam apenas 0,2% dos 75 milhões de habitantes do país. Estima-se que 90.000 católicos armênios, 25.000 católicos romanos, 20.000 ortodoxos sírios, 15.000 ortodoxos russos, 7.000 evangélicos, 3.000 caldeus iraquianos e 2.500 ortodoxos gregos. Além disso, existem 20.000 judeus.

 Fim do Estado Laico

 O temor dos líderes cristãos é que Erdogan consiga acabar em breve com o conceito de Estado laico, uma das bases da Turquia moderna, desde que foi estabelecida por Mustafa Kemal Ataturk, após o fim do Império Otomano. Ao se confirmarem as previsões recentes, o presidente turco irá impor no país a lei sharia, o que significaria que qualquer não islâmico pode ser morto, acusado de ser “infiel”.

 O pastor Ian Sherwood, que vive há décadas em Istambul, sendo atualmente responsável pela Igreja Anglicana Memorial da Crimeia, afirma que a comunidade cristã está “alarmada” após os últimos acontecimentos.

 Sob Erdogan, o islamismo na Turquia voltou a ocupar um espaço proeminente e, com isso, criado um clima de temor nos cristãos. Para ele, é visível “uma tendência crescente de intolerância para com não-muçulmanos”. Narra, por exemplo, que jovens muçulmanos invadiram o pátio da igreja gritando ‘Allahu Akbar’, espécie de grito de guerra, comum em ataques terroristas ao redor do mundo.

 “Não sou otimista com a situação dos cristãos na Turquia”, diz Sherwood. Ele afirma que muitos cristãos estão falando em sair do país. “Qualquer líder cristão, se for honesto, dirá que o que está acontecendo é bastante alarmante”, sublinha. Teme ainda que a “guerra ao cristianismo” em vigor nos países vizinhos como Síria e Iraque, chegue até solo turco definitivamente.



Postado: 21 de outubro de 2016

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