segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A universidade e a liberdade de crença religiosa

James Washington Bacharel em Ciências Sociais, mestrando em Sociologia e auxiliar da Assembleia de Deus no Cleto Marques Luz



Resolvi escrever este pequeno texto após ter visto a reportagem com relação ao trabalho científico que foi recusado pela UFRPE, pelo fato da autora do texto ter feito um agradecimento a Deus no referido trabalho.

As universidades, principalmente as federais, defendem uma postura laica (não religiosa) em relação as suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, contudo, isso não significa que não possam dialogar com as religiões existentes. Muitos dos estudantes que fazem pesquisas e produzem seus artigos como divulgação do que foi estudado têm crenças religiosas das mais variadas, e portanto, carregam consigo a idéia de que o esforço realizado teve a contribuição de Deus ou de forças sobrenaturais nas quais as elas acreditam.

O que está em jogo aqui é uma visão conservadora de ciência, que, ao mesmo tempo, busca justificar a sua objetividade. Estou falando da separação entre SUJEITO e OBJETO da pesquisa. Quem é o sujeito? Eu, você, que pesquisamos e divulgamos nossa pesquisa de maneira objetiva. Lembrem-se de que a ciência visa estudar o que são as coisas (e não como nos pensamos que elas sejam). O problema é que neste meio tempo, o próprio pesquisador é sujeito que sente, pensa e crê, e no seu interior correm inúmeras sensações além de uma ou mais crenças.

Apesar de tudo isso, ele ainda tem que ser extremamente objetivo em seus posicionamentos na universidade. Continuando, o que é o objeto da pesquisa? É justamente o ponto que estou pesquisando, tentando fazer com que a "verdade" sobre o mesmo seja revelada. Ai vem uma questão importante: mesmo buscando ser objetivo, a análise é no fundo subjetiva, pois o olhar sobre os pontos é feito de um jeito diferente do que fariam outras pessoas.

O que esta irmã fez foi externar sua opinião em meio a texto objetivo, sem comprometer o texto, pois o local dos agradecimentos é reservado. No mais, se tratava afinal da confissão de que ela fez o trabalho com a ajuda divina, o que é um reforço as suas atividades. Muitos se inspiram em autores célebres, em professores amigos, em adversários acadêmicos que querem derrubar, ela simplesmente se inspirou em Deus.

Quero deixar aqui bem clara a minha posição: a questão que levanto é justamente o problema desta separação brutal entre sujeito que pesquisa e objeto de sua pesquisa. Neste sentido, posso lhes contar algo que eu mesmo vivencio em minhas aulas. Sou professor de Antropologia da Educação e na turma em que leciono tenho pessoas que são evangélicas, inclusive assembleianos.

Quando montei meu plano de aula coloquei os textos que são de acordo com a disciplina e em sua maioria os autores são evolucionistas, céticos ou relativistas. Contudo, isso não me impediu de trabalhar em sala temas que se encaixam nos textos de maneira transversal (quando a escrita do texto possibilita um diálogo com outros temas), como as crenças religiosas, relações de gênero e sexualidade, isso dentro da idéia da formação dos currículos escolares como forma de suscitar as habilidades que a sociedade requer do ser humano.

O assembleiano não deixa suas crenças por causa do diálogo, nem deve ter medo de expor suas idéias, no entanto, deve ter discernimento na hora de ouvir e falar, e aproveitar os espaços de discussão de maneira responsável.



Fonte:http://www.jneweb.com.br/
Postado em
12 de dezembro de 2011

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