Pior do que a voz que cala é um esquecido que fala simples, rápido. E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações nas quais os esquecidos são dados como delicados, como um telefone mudo, um e-mail que não chega, um encontro onde nenhum dos dois abre a boca e pessoas não são lembradas.
Sou humano, vivo como “animal”, pesco, caço e chego até a dormir no meio do mato. E ninguém me vê, pois sou esquecido.
Lá onde eu moro existem muitas coisas terríveis. Se você for lá, vai ver homicídios, suicídios e até infanticídios, e ninguém faz nada, pois somos considerados animais, mas somos apenas a voz dos esquecidos.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já os esquecidos arquitetam planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado.
O esquecido quer ser lembrado. Enquanto nós não lembramos deles, vão chorando com suas almas pedindo salvação e dizendo: Na lifelo te! (para o inferno não!).
O único esquecido que perturba é aquele que fala e fala alto. Mesmo quando ninguém bate a sua porta, não há e-mails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica e ainda assim, você entende a mensagem. Você está escutando a voz de um esquecido.
Postado em 22 de abril de 2011
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