James Washington Bacharel em Ciências Sociais, mestrando em Sociologia e auxiliar da Assembleia de Deus no Cleto Marques Luz
Após a decisão do Supremo Tribunal federal (STF) de reconhecer a união estável de pessoas do mesmo sexo, vi pela mídia uma série de críticas ferrenhas a esta decisão por parte dos evangélicos e resolvi entrar neste debate, mesclando o que aconteceu no ultimo dia 5 de maio, com a realidade política do Brasil.
O primeiro ponto que desejo debater é sobre a separação conceitual entre sexo e gênero. O sexo corresponde à distinção entre homem e mulher, expresso primordialmente por características físicas. No entanto, o gênero, elemento que poucos prestam a atenção, é uma construção social, coletiva. É a distinção entre o masculino e o feminino, entre o azul (para o garoto) e o rosa (para a garota). É também a leitura de uma série de noções que com o tempo vão localizando o comportamento próprios de homens e mulheres e seus respectivos papéis sociais.
Tendo estas noções em mente, passo para o segundo ponto de minha exposição, que é o modelo de família que defendemos (digo isso porque sou assembleiano). Ele se baseia no texto bíblico de Gn 1. 27-28, que diz: "E criou Deus o homem à sua imagem; a imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, a sobre as aves do céu, e sobre todo o animal que se move sobre a terra".
No sentido expresso neste texto bíblico, há apenas dois sexos (homem e mulher) e dois gêneros humanos a serem construídos (o masculino e o feminino). Contudo a liberdade humana se vê livre a tal ponto, em relação aos aconselhamentos bíblicos, que desde muito tempo o homossexualismo é elemento presente nas sociedades. Me lembro que alguns autores fazem referência ao comportamento dos gregos, que antes mesmo do nascimento de Jesus Cristo e da pregação dos apóstolos, tinham em Atenas (centro do conhecimento na antiguidade clássica) um sistema educacional que permitia que os jovens, fossem desde pequenos ensinados no conhecimento das Letras, da Matemática, da Filosofia e da própria sexualidade, por um homem mais velho, ou seja, uma espécie de tutor. Disto resulta que as primeiras lições sobre sexualidade seriam dadas ao homem por outro homem. Contudo, após esta "primeira lição", os jovens poderiam em sua maioridade contraírem matrimônio com uma mulher. Este sistema não era próprio de toda a Grécia, e para os que duvidam é só assistirem ao filme 300, que logo no início mostra um mensageiro persa dizendo ao rei Leônidas de Esparta que invadiria seu território. Leônidas, revoltado, diz que lutaria e não se entregaria, e que se os atenienses (a quem ele denomina de filósofos e pederastas) não se entregaram, ele também não se entregaria. Soma-se a isso a ideia de que a mulher (para os gregos), não era nem cidadã, quer dizer, não tinham direitos políticos, e, segundo Aristóteles (em seu livro: A Política), ela seria intelectualmente inferior ao homem, por isso não poderia exercer poder de mando nem em sua própria casa.
Daí vem uma forma de homossexualismo que expressa que estas coisas não são de hoje. Mas onde fica o Estado perante esta discussão? Esta é nossa terceira questão a debater. O Estado, na medida em que simboliza poder e governo, atuando num determinado território, deve promover a integração social e a manutenção dos direitos. Isso na linguagem atual se chama "estado de direito". Este Estado de direito expresso na forma de direitos humanos, civis e políticos e constituem o que T. H. Marshall chama de "três formas de cidadania". O que eu acho particularmente estranho é a maneira com que a religião tenta interferir diretamente dentro do Estado. Nós particularmente enchemos a boca para defender nosso direito de expressão e de uma hora para outra queremos impedir a conquista de direitos por parte de outras pessoas (como é o caso dos homossexuais). Não estou partindo em defesa deles, mas é preciso entender que o Estado é laico, o ele seria religioso? Se for, estou sabendo disso agora.
Sei que a defesa da fé deve ser feita, mas, no âmbito jurídico legal, há motivos reais para que eles (os homossexuais) almejem a união estável. Isso por que os conflitos familiares não estão restritos aos casais heterossexuais, e o que se quer é o reconhecimento de direitos e não a celebração de casamentos na igreja. Porém, alguém pode se indagar, mas o conceito de família? Onde fica? Visto que ela é tradicionalmente entendida como família nuclear (mãe, pai e filhos,). Até agora não há sério contra-senso. Se olharmos com calma, a resolução 001/2011, aprovada na 40ª AGO em Cuiabá pela CGADB é bem clara ao dizer que "não reconhece no âmbito de seus membros a condição de UNIÃO ESTÁVEL. Não reconhecendo esta situação para os líderes a ela filiados, por conseqüência não reconhece isto para os fieis também. Quanto mais para os que não seriam membros. Portanto, nosso conceito de família continua sendo o mesmo: a saber, nuclear e reconhecido no âmbito da união civil.
E ainda há um agravante. O reconhecimento da união estável para os casais homossexuais revela a existência de conflitos e questões complexas, que nascem em toda interação humana. Quebrando o que o senso comum afirmava, ao dizer que estes casais seriam mais estáveis. No entanto, o nosso modelo, heterossexual, sofre cada vê mais. Estamos na verdade perdendo tempo, combatendo o que se chama de "modelo de família errado", enquanto o nosso "modelo certo" está sendo regido muitas vezes de maneira errada. Não entrarei diretamente neste ponto, mas se nós fôssemos pesquisar, principalmente com as mulheres (e com homens também) e nível de contentamento com seus cônjuges acredito que muitas surpresas teríamos. Excesso de autoridade, questões financeiras, falta de diálogo e de tempo para a convivência seriam elementos dos mais nocivos.
Devemos irmãos, fortalecer o modelo biblicamente ensinado e entender que as questões de Estado são guiadas no sentido de se fazer um trabalho para as classes e segmentos sociais. Lembrando que a aquisição de direitos por quem quer que seja, não deve ser encarado como uma afronta ao nosso modelo de vida, porque quem pode derrubá-lo, infelizmente, somos nós mesmos, levando a falência com nossos comportamentos esta instituição belíssima que Deus criou (o matrimônio).
Lembro-lhes que a lógica mundana, expressa pelas interações dos homens e mulheres que estão no mundo, é uma lógica biblicamente irrefreável, no sentido de que o mundo "jaz no maligno". Não é a toa que nossa igreja cresce pela conversão individual, tirando os homens desta lógica mundana, no modelo da galinha que de grão em grão enche o papo. Quero dizer com isso que nosso testemunho perante o modelo biblicamente instituído é o que vale.
Fonte:http://www.jneweb.com.br/
Postado em 13 de maio de 2011
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