segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sedução da religião de mercado

Pr. Napoleão de Castro É teólogo, pastor da igreja na cidade de Cacimbinhas e gosta muito de ensinar a Palavra de Deus


O pós-modernismo, o secularismo, o relativismo, e o pluralismo representam perigos tanto à propagação quanto à vivência autêntica da palavra de Deus nesses dias turbulentos. Logo, preocupação com as questões internas das próprias igrejas evangélicas não deve ser menor muito menos desprezadas, como se não tivessem importância alguma. É muito fácil relacionar vasta quantidade de ameaças internas que rondam a Igreja no Brasil. Os pressupostos dos referidos movimentos podem ser vistos em livros cristãos, jornais, revistas, programa radiofônicos e Televisivos.etc., e o que é pior, no padrão de vida dos fiéis.

A própria igreja, em vários aspectos, tem seguido os pressupostos da sociedade pós-modernista. A pluralização, isto é, a expressão da liberdade de opção das pessoas frente a limitada oferta de produtos e ideias, faz cada vez mais adeptos entre o povo de Deus. A privatização também tem galgado seu espaço, haja vista que preconiza que a criatura humana é livre para fazer o que quiser. Outro perigo evolvendo a interpretação e aplicação da Bíblia é a sedução das cifras. E a mesma. De alguma forma, está ligada a ao pluralismo.

O numericismo megalomaníaco parece ter se tornado uma prova cabal para legitimar o êxito da liderança e da igreja. Vale tudo para ter cifras: transformar culto em show, igreja em empresa, crente em cliente, sacerdócio em negócio, vocação em profissão, VERBO em verba, caráter em carisma... Não é sem motivo que Eugene Peterson em seu livro: Um pastor segundo o coração de Deus. Compara muitos pastores a meros gerentes de lojas!

De fato, o vergonhoso mercado religioso do sensacionalismo, do imediatismo e do consumo da fé tem ditado nossos conteúdos, redesenhado nossas motivações e metodologias e adulterado nossa pregação afastando-a da Bíblia. O clima de competição/concorrência nas instituições eclesiásticas, favorece a mudança de motivação religiosa do povo.

COMO EVITAR O CAOS VINDOURO

Muitos desafios externos e internos estão diante da igreja Evangélica no Brasil. E para superá-los é mister uma volta urgente à palavra de Deus. Sem sólida fundamentação bíblica e teológica a igreja dificilmente conseguirá confrontar e vencer os vários e perniciosos pressupostos do pós-modernismo. E decerto terá dificuldades para contornar suas crises e distorções internas, também caracterizada pela corrupção na motivação pessoal e ministerial de determinados líderes evangélicos que , em nome da expansão numérica, deturpam os textos sagrados para ancorar suas pregações e práxis, atrair o povo, mantê-lo cativo e se apropriar de seus recursos.

Não há dúvida de que a Igreja precisa de urgente retorno ao conhecimento e prática do livro de Deus! Tais desafios jamais serão superados se a Igreja não se voltar à reflexão bíblico-teológico-prática. Enquanto não tiver totalmente vinculada à Bíblia, ela sofrerá as influências danosas de seu eixo contextual. Isso já está acontecendo em vários lugares.

Evidentemente o retorno proposto vai além de se ter uma Bíblia em casa; ter a Bíblia e não lê-la, embora erro grave, constitui-se prática corriqueira entre os evangélicos brasileiros! Charles H. Spurgeon declarou num sermão “Não sois leitores da Bíblia. Vocês afirmam que tem uma Bíblia em casa (...). Porém, quando foi a última vez que a leram? Como sabem que os óculos que perderam há três anos atrás, não estão na mesma gaveta da Bíblia?! Não basta apenas ter a Bíblia em casa, no carro, no trabalho... é mister conhece-la e praticá-la fielmente!

A Bíblia ainda é o livro mais vendido no mundo. Isto não significa, porém, que a civilização pós-moderna a conhece o bastante. Pesquisas confiáveis para nossa vergonha, revelam o contrário. Apesar de não existir no Brasil uma pesquisa recente para averiguar o nível de nosso conhecimento Bíblico afirmo que não somos leitores – e praticantes – exemplares da Bíblia! Há cerca de dez anos a Sociedade Bíblica (SBB), num levantamento feito, revelou: 60% dos evangélicos nunca leram o Novo Testamento integralmente!

George Barna, celebre pesquisador, mostrou que a situação não é diferente nos EUA, numa pesquisa realizada em 2005 descobriu-se:
1. 93% das residências pesquisadas possuem um ou mais exemplares da Bíblia.
2. 12% dos entrevistados garantiram ler as Escrituras todos os dias.
3. 57% confessaram que passaram mais de uma semana sem ler a Bíblia.
4. 31% acreditam que o dito popular “Deus ajuda a quem cedo madruga” está nas páginas da Bíblia.
5. 48% acreditam que o livro de Tomé – um texto apócrifico – é um dos 66 livros que compõe a Bíblia cristã.
6. 52% não sabiam que existe o livro de Jonas.
7. 58% desconhecem quem pregou o Sermão do Monte.

David L. Larsen acrescenta outras observações interessantes: uma surpreendente estimativa afirma que 61% da população norte-americana não conseguem ler com aproveitamento um livro texto-usado no ensino médio. Cita ainda uma afirmativa de Allan Blom: “Nos Estados Unidos, falando de maneira prática, a Bíblia era a última cultura comum, aquela que unia o simples e o sofisticado, o pobre e o rico, o jovem e o velho e que deu o caráter de seriedade aos livros”.

Não intenciono pegar a Igreja norte-americana para ser bode expiatório. Uma coisa contudo, é certa: Se a nação mais evoluída do planeta, singular celeiro de grandes teólogos, reveladora de pregadores de renome internacional, enfrenta dificuldades para meditar na Bíblia, imagine um país emergente como o nosso, onde a população não ocupa posição privilegiada nos índices educacionais; onde boa parte de nossa gente pobre e modesta sequer foi alfabetizada; onde crianças, aterrorizadas pela fome devastadora, se veem forçadas a deixar a escola e procurar trabalho ou morrem desnutridas com os demais membros da família; onde líderes de igrejas evangélicas visivelmente despreparados combatem categoricamente a capacitação bíblica e teológica, onde embusteiro, motivado pelo lucro fácil, abrem igrejas nas quais oferecem em troca de dinheiro os favores que o sagrado pode propiciar – saúde, felicidade e prosperidade econômica!

Que a Palavra, como orientou Paulo, habite em nossos corações (Cl 3.16), alegrando o nosso íntimo (Sl 119.8), orientando nossos passos (Sl 119.105), iluminando nossa mente (Sl 119.130), sendo nossa fonte de meditação diária (Sl 119.97), de nutrição (Jr 15.16), de purificação de intenções (Hb 4.12), de renovação de nosso ser (Rm 12.12. Sim , a revitalização da igreja evangélica em nosso país passe pelo retorno urgente e incondicional da Bíblia e ao compromisso de vivenciá-la persistentemente.

Nobre leitor, só assim poderemos combatermos a sedução da religião de mercado!



Fonte:http://www.jneweb.com.br/
Postado em
19 de setembro de 2011

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