sábado, 6 de fevereiro de 2010

Missionários que tentaram levar crianças do Haiti são indiciados





Missionários que são acusados de tráfico infantil



Batistas vão responder por sequestro de menores e associação para o crime

Dez missionários americanos foram indiciados nesta quinta-feira por sequestro de menores e associação para o crime no Haiti, sob a acusação de terem tentado levar ilegalmente do país um grupo de crianças, vítimas do terremoto de 12 de janeiro. Os cinco homens e cinco mulheres, que fazem parte da igreja batista New Life Children's Refuge, foram presos com as 33 crianças na fronteira com a República Dominicana na semana passada.

Os missionários disseram que as crianças eram órfãs e que eles as estavam levando para um orfanato dominicano, mas depois se descobriu que várias crianças ainda tinham familiares vivos no Haiti.

Os missionários foram levados em uma van para o tribunal na capital haitiana, Porto Príncipe, provocando cenas de caos.

Ao sair, depois de serem formalmente acusados, alguns deles tentaram esconder seus rostos e então começaram a entoar canções religiosas.

As crianças, com idades variando entre dois e 12 anos, estão agora sob os cuidados de uma organização austríaca em Porto Príncipe.

Vinte e uma das crianças vêm de um mesmo vilarejo na periferia da capital haitiana e foram entregues pelos próprios pais aos missionários, disse o correspondente da BBC em Porto Príncipe, Paul Adams.

De acordo com o advogado haitiano deles, Edwin Coq, não haverá um júri aberto, e o juiz pode levar cerca de três meses para dar um veredicto.

Cada acusação de sequestro pode resultar em uma condenação de cinco anos a 15 anos de prisão e cada acusação por associação pode resultar em três a nove anos de prisão, disse o advogado. Após serem formalmente acusados, os haitianos foram levados para um presídio na capital Porto Príncipe. O subprocurador Jean Ferge Joseph disse que o caso será agora encaminhado para um juiz de instrução, que "pode libertá-los, mas pode também continuar a detê-los para novos procedimentos."

De acordo com o advogado, nove dos dez americanos --que têm 18 a 55 anos de idade-- não sabiam nada sobre a situação dos documentos das crianças. "Farei o possível para soltar os nove", disse Coq. A líder do grupo, Laura Silsby, permaneceria sob acusação.

"Nós não sabíamos que o que fazíamos era ilegal. Nós não tínhamos nenhuma intenção de infringir a lei. Mas agora nós entendemos que é um crime", disse à imprensa o pastor Paul Robert Thompson, que liderou uma oração com os americanos durante uma pausa em sua audiência judicial. "Nós só queríamos ajudar as crianças. Nós pedimos ao tribunal não só a nossa libertação mas também que possamos continuar ajudando", disse a líder Silsby.

O grupo de americanos faz parte da igreja batista New Life Children's Refuge. Eles tentavam atravessar a fronteira entre Haiti e República Dominicana com 33 crianças com idades entre dois meses e 12 anos quando foram presos por falta de documentos. Depois, as autoridades haitianas descobriram que algumas das crianças tinham parentes vivos, após o terremoto de magnitude 7 que devastou parte do país no último dia 12.

Dois dias depois da prisão, Silsby, afirmou à agência de notícias Associated Press que as crianças eram órfãs e que seriam levadas para um hotel da área de Cabarete, na costa da República Dominicana. O hotel, de 45 quartos, seria, posteriormente, transformado em um orfanato, ainda conforme a missionária.

No entanto, após a prisão dos americanos, as autoridades haitianas descobriram que várias das crianças tinham pais vivos e até sabiam os telefones deles. Desesperados, os pais dizem que entregaram os filhos para o grupo de boa vontade, confiando nos americanos que teriam prometido levá-los para uma vida melhor. As histórias contradizem as afirmações da líder do grupo de batistas, segundo quem as crianças foram tiradas de orfanatos ou foram entregues por parentes distantes.

Na segunda-feira (1º), o premiê do Haiti, Max Bellerive, afirmou que os americanos sabiam "que o que faziam era errado". "Está claro agora que eles estavam tentando cruzar a fronteira sem papeis. Está claro agora que algumas das crianças têm pais vivos."

Hoje, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse considerar "lamentável" que os americanos tenham "assumido as coisas com as próprias mãos" e garantiu que Washington mantém "discussões com o governo haitiano sobre a disposição apropriada do caso deles".

Em um momento em que os EUA lideram a enorme operação humanitária no Haiti, o Departamento de Estado se empenha em não passar uma impressão de interferência no caso, e ainda na terça-feira negava que houvesse discussões com as autoridades haitianas a respeito deles.


Fonte:http://www.jneweb.com.br/
Postado em 06 de fevereiro de 2010

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