domingo, 11 de agosto de 2013

“Hoje eu sei que Deus é meu Pai”

Colômbia


Sofia* fazia uma visita aos vizinhos quando ouviu um bombardeio de tiros vindo de sua casa, na área de Arauca, cidade devastada pelo conflito entre a guerrilha e o exército colombiano. Ela correu para casa e viu que familiares e outras pessoas já haviam adentrado no ambiente onde seus pais estavam sangrando. Sua mãe estava quase sem respirar, seu pai disse que não conseguia sentir suas mãos

José Rodriguez e sua esposa, Emilse Maria del Carmen, foram ordenados como pastores da Assembleia de Deus. Ele ministrava em uma comunidade indígena no Rio Arauca, fronteira com a Venezuela, e ela levava jovens à congregação La Esmeralda, onde seu marido também pregava.

O corpo dele levou seis tiros; o dela, oito. O casal não havia recebido ameaças, porém, tanto José, quanto Emilse tinham laços anteriores com a guerrilha. Grupos armados ilegais que há muito tempo governam Arauca adotam a prática de matar quem deixa a guerrilha. Uma vez no comando de recrutamento, José partilhou da ideologia política da guerrilha. Ele havia deixado o ELN (Exército de Libertação Nacional) oito anos antes de sua morte. Emilse desertou (também do ELN) cinco anos antes.

Guerrilheiros que se tornam cristãos também enfrentam a “justiça” rebelde. Os avós de Sofia acreditam que o simples fato de serem líderes da igreja os fez alvos de hostilidade por parte da guerrilha.

Quando os pastores foram levados às pressas para o hospital, membros da igreja chegaram para orar para que a vida deles fosse poupada. Sofia nunca orou tanto. Mas, uma hora depois, veio a notícia horrível: seus pais estavam mortos.

Para Sofia, o assassinato daqueles que ela mais amava, ocorridos em abril de 2009, parecia uma traição divina. “Meus pais foram treinados para se tornarem pastores. Eles sempre me ajudaram com meu trabalho da escola, deram-me orientação divina e sempre me trataram bem”, disse ela. “Deus não deveria ouvir nossas orações? Por que Ele não respondeu nossas preces?”

  Esse desespero é muito comum entre as crianças da Igreja Perseguida e pessoas que correm risco de recrutamento por grupos armados ilegais na Colômbia. Estas crianças são vulneráveis a uma série de grupos que tentam seduzi-las ao lhes entregar armas. Esses grupos defendem a ideologia comunista; ou são direitistas extremos, opostos aos grupos de esquerda e grupos criminais envolvidos no tráfico de drogas; promovem a prostituição infantil, a extorsão e a guerra; tem por objetivo derrubar o governo da Colômbia.

 Depois do assassinato de sua mãe e seu pai, Sofia e seus irmãos, Ambar Gricet, de 2 anos, e Juan Jose, de 2 meses, foram morar com os avós paternos. Quatro meses depois, Sofia passou a viver no abrigo infantil mantido pela Portas Abertas, um refúgio que oferece proteção, habitação e educação para crianças de famílias cristãs perseguidas na Colômbia.

Portas Abertas apoia crianças da Igreja Perseguida

“Nos meus primeiros dias no abrigo, senti muita dor e um grande vazio no meu coração”, disse Sofia. “Mas aqui, eu me senti livre.”

  O Senhor moveu-se na vida de Sofia através do abrigo de crianças. Enquanto Sofia se perguntava por que Deus permitira que a vida dos seus pais terminasse de forma tão trágica, ela veio a entender que, apesar de todo mal ao seu redor, Deus tinha um propósito para sua vida. “Esse propósito é que eu possa compartilhar com outras pessoas sobre o amor de Deus em meio às circunstâncias difíceis”, disse ela.

  “Essa experiência me ensinou a ter mais confiança em Deus. Agora eu entendo que muitas coisas podem acontecer em minha vida, mas que o Senhor estará sempre comigo. Ele é o meu pai. Estou muito feliz em dizer que eu acredito nele!”

Ela perdoou os dois homens que mataram seus pais. Hoje, ela é uma líder entre as 24 meninas que vivem no abrigo. A liderança a confiou como assistente da conselheira das meninas, atuando como representante residente e monitora de quarto. Através de um programa de treinamento em evangelismo da Portas Abertas, Sofia também compartilhou o evangelho em uma comunidade perto do centro.

“Eu gosto de dizer aos outros que, para aqueles que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem”, disse Sofia. “Eu tento fazer as pessoas entenderem que não precisamos nos afastar do Senhor por conta das situações ruins”, comenta ela.

  Sofia reconhece que seu tempo no abrigo infantil tem sido de vital importância para que ela possa atingir a maturidade espiritual que almeja. Ela está consciente de que o seu testemunho é um exemplo para as outras crianças que vivem em situações semelhantes de dor, tristeza e sofrimento. Desde o assassinato de seus pais, ela aprendeu a valorizar as pessoas ainda mais. “Eu entendo o quão importante é mostrar aos outros que nós amamos a Deus”, disse ela.

Sofia, agora com 15 anos, vai se formar em 2014. Ela diz que, acima de tudo, quer servir ao Senhor e irradiar a alegria de Deus em sua vida. Ela aspira ser uma profissional que afeta os que estiverem ao seu redor. Durante seus anos no abrigo infantil, ela descobriu seu talento como educadora. Hoje, está interessada em se tornar professora.

Durante as férias, enquanto aproveita seu tempo em casa, desfrutando da convivência com seus avós e irmãos mais novos, ela chegou a considerar as colegas do abrigo como parte da sua família também. “Eu sei que neste lugar nós formamos uma grande família”, afirma. “Eu não sei como Deus me deu força para superar tudo isso, mas hoje eu sei que ele é meu pai.”

  *O nome foi alterado por questões de segurança.

Fonte:http://www.portasabertas.org.br/
Postado em 11 de agosto de 2013

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