domingo, 7 de julho de 2013

Vozes da revoluo

Cristos egpcios afirmam que Mursi queria instalar uma guerra civil religiosa e que saram s ruas para exigir seu pas de volta. Mas afinal, quem tomou o Egito?


 A resposta essa pergunta pode variar. Entre os milhares de egpcios que invadiram as ruas de todo o pas desde domingo (30 de junho), muitos estavam ali para forar o presidente Mohamed Mursi a deixar o poder, outros para apoi-lo. "Agora estamos vendo a revoluo sofrer ameaas", relatou um membro da Irmandade Muulmana, que se encontra entre as muitas fileiras formadas em favor de Mursi. Ele foi citado pelo jornal britnico The Guardian.

 A agncia de notcias World Watch Monitor falou com um nmero de cristos em meio a uma multido de manifestantes. Seu ponto de vista comum : a Irmandade Muulmana sequestrou o que era para ser um Egito novo e pluralista, emergido em janeiro de 2011, aps a derrubada de Hosni Mubarak.

 "Estou deprimido porque no espervamos por isso", diz Amgaed Fahmi, que dirige uma empresa de importao no Cairo. "Eu participei vrias vezes da revoluo. Tive o sonho de mudar e, de repente, a Irmandade roubou a revoluo".

 Os cristos que falaram com a World Watch Monitor nesta semana se descrevem como patriotas egpcios cansados do declnio econmico, da corrupo e de um governo dominado por islamitas que abandonaram a inteno original de derrubar um regime autocrtico.

 "Estou participando hoje para remover o sistema corrupto", diz Shenoda Danil, um motorista de txi de uma rea ao sul do Cairo chamada Cidade 15 de Maio. "A nossa situao tornou-se pior. A Irmandade est pensando apenas nela. Eles no sabem e no fazem nada para o povo. Eles dividiram a nossa sociedade em muulmanos e cristos", declarou ele dias atrs, antes da queda de Mursi.

 "A Irmandade roubou a primeira revoluo", diz Danil. "Isso uma injustia".

 Hebatalla Safwat Ghali, uma professora de francs da Universidade do Cairo passou semanas entre os manifestantes de 2011 na praa Tahrir, epicentro do levante que derrubou Mubarak. No domingo (30), ela estava de volta praa, entre as dezenas de milhares de manifestantes antigoverno.

 "Estou aqui em Tahrir porque, em primeiro lugar, sou egpcia, sou parte deste povo", diz ela. "E em segundo lugar, porque, como uma copta (crist), eu testifico o meu amor cristo ao meu pas. Preocupo-me com as preocupaes do meu povo. Tenho compaixo de todo o povo egpcio. Rejeito todo tipo de injustia a todas as pessoas, no apenas aos cristos. Vamos manter a nossa revoluo at alcanarmos trs valores: justia social, liberdade e dignidade humana. A situao tornou-se pior, mas vamos continuar at o fim. A Irmandade", diz Ghali, "est tentando raptar nosso pas."

. Mekheel Aziz Karyakos, um padre da Igreja Copta Gerges Mar no distrito Shobra, do Cairo, diz que tinha o dever de, como lder cristo, tomar parte nas manifestaes de domingo.

 " muito importante para mim estar aqui, porque eu sou um egpcio copta, e tambm porque sou um lder e tenho uma responsabilidade", diz ele. "O Egito to grande para ns, e a Irmandade est tentando roub-lo. Eles esto roubando o futuro do nosso povo".

 Alguns dos cristos entrevistados dizem que foram s ruas para protestar por outras preocupaes cotidianas, como o desmoronamento da economia do Egito, direitos bsicos e ordem.

 "Este o meu pas, e eu estou preocupado com o meu futuro", diz Shady Abdel Massieh, que trabalha como topgrafo. "Mursi no fez nada. No h gs, electricidade, segurana ou emprego. A situao muito ruim. E ele e a Irmandade ainda dividiram o pas".

 Manifestantes antigoverno continuaram a embalar Tahrir em espaos pblicos em todo Cairo e em outras cidades em todo o Egito na tera-feira. Os partidrios de Mursi, por sua vez, reforaram seus prprios nmeros em vrios locais do Cairo, e os oficiais da Irmandade pediram aos apoiadores em todo o pas para se prepararem para preencher as ruas. As tenses continuaram a aumentar medida que chegava o fim do prazo militar dado a Mursi para entrar em acordo com a oposio.

 Dezenas de pessoas foram mortas em confrontos espordicos antes e depois dos protestos de domingo. O clima, na tera-feira, nas ruas em redor do Etehadeya Palace, no bairro de Helipolis, era mais leve. A multido foi impulsionada pelo ultimato dos militares a Mursi, amplamente recebido como um endosso dos manifestantes, que entoavam canes patriticas e traziam bandeiras egpcias pintadas nas bochechas das crianas, enquanto helicpteros militares jogavam pequenas bandeiras de suas aeronaves para as pessoas abaixo.

 "Como cristo, eu me senti extremamente marginalizado desde que [Mursi] chegou ao poder", diz Manal Selim. "Ele cometeu uma srie de erros fatais que desfiaram a nossa sociedade, a comear por pedir um comit qualificado para elaborar a Constituio que ignorou totalmente a nossa participao [dos cristos]. Ele deve sair".

 Dois amigos, um deles usando uma cruz e o outro o hijab muulmano, falaram com otimismo. "Hoje temos de volta o nosso Egito", um deles disse a World Watch Monitor. "Durante um ano, eles tm tentado colocar-nos beira de uma guerra civil, mas hoje provamos que isso impossvel. Queremos um pas civil, com um novo presidente civil, que pode melhorar as nossas condies de vida e manter a nossa segurana e estabilidade", disse o outro.

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Fonte:http://www.portasabertas.org.br/
Postado em 07 de julho de 2013

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