quinta-feira, 16 de julho de 2009

Marcas da Perseguição




Adaptação de um relato de Soon Ok Lee sobre os campos de prisão na Coreia do Norte.


Fui educada em Chung-Jin, na província setentrional denominada Ham-Kyung, na Coréia do Norte. Entretanto, nasci na Alemanha e mudei-me para a Coréia do Norte com o meu pai que era um oficial do exército da União Soviética. Estudei da quinta-série até o ensino médio em Chung-Jin e fui cursar a faculdade em Pyung-Yang. Depois de terminar a graduação na Universidade de Economia Especializada, trabalhei no Banco Central por alguns meses. Então, aos 23 anos, filiei-me ao Partido Trabalhista Kim Il-Sung e fui aceita na Universidade de Economia do Povo de Pyung-Yang, uma das melhores instituições para formação de líderes nacionais. Tornei-me a gerente de distribuição de materiais no Partido Trabalhista Kim Il-Sung, onde eu trabalhei durante os próximos 17 anos. Eu era a única filha, vinda de uma família de prestígio político e, por isso, lealdade ao governo era um dever para mim. Contudo, acredito que minha mãe era uma cristã comprometida. Lembro-me que ela cantava hinos para mim como canção de ninar. Ela também me dizia que não deveríamos adorar homens como deuses, mas precisávamos acreditar no Deus verdadeiro.
Minha posição era considerada extremamente significante para Kim Il Sung porque eu estava, essencialmente, encarregada de distribuir materiais para toda a nação de 23 milhões de pessoas. Por 17 anos, recebi a máxima confiança de Kim Il Sung, que em troca, mantinha-me fiel a ele. Porém, como a economia começou a entrar em colapso na década de 1980, tornou-se cada vez mais difícil a distribuição de mercadorias e recursos para muitas partes do país. A escassez de comida tornou-se um grande problema por toda a nação e, finalmente, toda a culpa foi passada para mim. Por isso fui selecionada e mandada para um campo de prisão política por sete anos. O campo de prisão que eu fui enviada está situado em Kae-Chon, ao sul da província de Pyung-Yang. Há mais de seis mil presos neste local: mais de quatro mil são homens e mais de duas mil são mulheres. A maioria dos presos está lá por razões políticas. Alguns foram capturados enquanto viajavam para lugares que não tinham permissão em busca de comida. Algumas eram mães queixando-se que seus filhos estavam morrendo de fome. Elas perguntavam-se "por que tenho que morrer desta maneira? Por que eu não posso comer até ficar satisfeita como as pessoas em outros países?". Pessoas que tinham este tipo de pensamento eram consideradas como de má ideologia. Se a mãe estivesse grávida, segundo a lei norte-coreana que diz que a semente de um criminoso deve ser queimada até sua terceira geração, eles abortavam o bebê. Se, de algum modo, o bebê sobrevivesse e nascesse, eles estrangulavam o bebê, esmagando com os pés na frente de sua própria mãe.
Eu também testemunhei muitos experimentos feitos com humanos. Eles diziam que era inútil testar armas e produtos químicos em animais porque este tipo de armamento foi criado para atingir os inimigos, outros seres humanos. Eu também vi muitos cristãos no campo. Por causa de sua fé em Deus e porque cantavam hinos nos campos, eram pisoteados até morrer. Se não negassem a Deus, eram queimados com um metal líquido fervente até a morte. Vi muitas coisas indescritíveis que não eram vislumbres raros para mim. Por ter passado por muitas torturas físicas, eu ainda tenho muitas marcas deixadas no meu corpo. O lado direito do meu rosto ainda está um pouco torcido, a parte esquerda da minha boca está torta e os dentes de todo o lado esquerdo da minha boca estão quebrados. Diariamente convivo com muitas dores físicas no meu corpo e é difícil suportá-las. Porém, lembro-me que, neste exato momento, muitas pessoas estão passando por torturas e experimentos humanos.
Desde o momento em que saí da minha casa na Coréia do Norte, eu posso ver claramente como Deus esteve comigo, conduzindo cada passo que eu dava. Na noite que eu parti, estava frio e nublado e o chão estava coberto de neve. O ar denso dificultou que os guardas enxergassem. Quando eu atravessei a fronteira para a China, avistei, por acaso, um condomínio que pertencia a uma pessoa com quem eu trabalhei. Deus também me fez lembrar um número de telefone que eu sabia há dez anos! Então, eu entrei em contato com o homem que era o chefe de uma determinada agência na China. Ele me ajudou a sair do país. Eu posso ver que Deus me guiou durante os momentos mais difíceis da minha vida.


Postado em 16 de julho de 2009.

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