Por Malcolm Moore em Xiamen
“Eu sou o maior opositor da política do filho único na China!”, ri Fu Yang, um homem magro e animado de 47 anos de idade, a medida que ele mexe e serve o chá. “Eu tive sete filhas, em apenas dez anos.”
Sr. Fu e sua esposa um pouco mais reservada estão entre os milhões de pais chineses que correm o risco de ameaças, multas e até prisão, por desacatar a política do filho único. O casal, que agora vive uma vida próspera numa pequena aldeia nos arredores da cidade ao sul de Xiamen, teve de fugir no passado de três outras províncias e esconder seus filhos com os amigos.
“Houve alguns momentos difíceis”, reconhece o Sr. Fu. “Nós fomos perseguidos e tivemos de viver como mendigos. Mas eu nunca pensei em fazer o contrário. Estou ciente de que muitas pessoas não querem suas filhas, mas temos um respeito decente pela vida. Na China, pensamos que, quando você tem um filho é como se você separasse uma parte de seu próprio corpo. Nós nunca consideramos outras opções “, disse ele.
Desde 1978, o governo da China limitou a cada casal uma criança, numa tentativa de conter o crescimento da maior população do mundo. Para fiscalizar a lei, comitês de bairro mantém um olhar atento para qualquer gravidez, e os oficiais de planejamento familiar têm o poder de obrigar as mulheres a fazerem abortos e esterilizações, bem como acompanhar a sua contracepção.
A política não se aplica a todos. No campo, os pais podem tentar uma segunda criança se a primeira for menina. Os casais que são ambos filhos solteiros são também autorizados a ter dois filhos. Um número crescente de chineses ricos também pagam taxas a fim de terem um segundo filho.
Mas para os pais que não cumprem a lei, as penalidades podem ser severas. Trabalhadores de empresas estatais, podem perder seus empregos. Outros encaram multas altíssimas, a possível demolição de suas casas, ou mesmo uma prisão.
“Quando eles descobriram que eu tinha sete filhas, tentaram derrubar a nossa casa, mas felizmente tenho boas ligações: meu tio é o chefe da aldeia”, diz Fu.
“Eles também queriam me multar em 600 mil yuans (R$ 160.000). Mas eu me recusei a pagar-lhes. Por fim, derrubaram apenas uma pequena parte de minha antiga casa e eu lhes paguei 2.000 yuans”, acrescentou.
Sr. Fu diz que conhece várias outras pessoas em seu vilarejo que também têm mais de um filho, e que ele tem incentivado sua filha mais velha, que acaba de lhe dar um neto, para continuar a gerar. “Eu disse a ela: não importa o custo, ela deve ter mais filhos”, diz ele.
Em milhões de outros casos, as famílias também estão preparadas para assumir o risco e infringir a lei, de acordo com pesquisa realizada por Liang Zhongtang, um demógrafo e ex-membro do comitê de peritos da Comissão Nacional de Planejamento Familiar e Populacional da China.
Examinando os dados do censo da China, o Sr. Liang se deparou com discrepâncias que provam a prática.
“Em 1990, o censo nacional apontou 23 milhões de nascimentos registrados. Mas pelo censo 2000, havia 26 milhões de crianças de dez anos, um aumento de três milhões “, disse ele. “Normalmente, você esperaria que houvesse menos crianças de dez anos de idade do que recém-nascidos, por causa da mortalidade infantil”, ele acrescenta.
Seus resultados sugerem que a lei do filho não produziu o efeito desejado, gerando ainda outros problemas. De acordo com dados da própria China, o desejo tradicional entre as famílias chinesas de ter um menino, juntamente com o regime de um filho, deve produzir um excesso de 30 milhões de homens em 2020, com muitos pais supostamente fazendo uso da ultra-sonografia para saber o sexo do seu bebê.
Os idealizadores da lei foram alertados que esses milhões de homens frustrados por serem incapazes de encontrar esposas, poderiam causar estragos na sociedade chinesa, levando a um acentuado aumento da prostituição e da violência.
Entretanto, o Sr. Liang diz que o desequilíbrio não é “definitivamente tão grave como as estatísticas indicam”. Ao invés de abortar fetos do sexo feminino, a pesquisa do Sr. Liang sugere que as famílias mantém as meninas, não declarando-as.
“O que acontece é que as meninas não planejadas geralmente não são registradas junto às autoridades quando elas nascem. As famílias esperam até que tenham seis ou sete anos e, em seguida, os governos locais tendem a não se preocupar tanto “, acrescenta.
“Assim que cada uma de nossas filhas terminou a amamentação, as enviamos para morar com um amigo ou parente”, diz Fu. “Elas foram para a escola, mas sem os documentos apropriados”, acrescenta. “Na época, as autoridades de planejamento familiar eram muito rigorosas e elas estavam prendendo as pessoas que passassem do limite”, diz ele.
“Mas, em Guangdong, eu tinha um amigo que era um bandido. Fomos juntos para o hospital e forçamos um médico a emitir um certificado dizendo que minha esposa tinha sido esterilizada. Dessa forma, quando as autoridades nos abordassem, poderíamos mostrar-lhes nossos documentos. Eles tinham de ser reais mesmo, pois os oficiais muitas vezes cruzavam as informações para terem certeza. ”
Entretanto a difícil condição de nascimento parece não ter afetado as perspectivas de futuro das crianças do Sr. Fu. Três das suas cinco filhas mais velhas são membros do partido comunista, enquanto as outras duas permanecem na escola. Uma de suas filhas está fazendo pós-graduação em Direito em Pequim, enquanto a outra está a ponto de assumir o lugar dele, como chefe dos negócios da família.
Postado em 15 de fevereiro de 2011
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