A Missão Não Íntegra de quem fala em nome da TMI
Por Thiago Oliveira
O Missão na Íntegra, que de acordo com a sua própria página diz ser “um dos movimentos de pregadores e pensadores protestantes que refletem a partir da proposta da Missão Integral”, está apoiando as ocupações nas escolas, e fez isso ao repetir em caixa alta - por três vezes - a seguinte frase num de seus post’s no Facebook: “TODO APOIO AOS ESTUDANTES NAS ESCOLAS OCUPADAS”!
Vale ressaltar que o Missão na Íntegra foi responsável por criar um manifesto contrário ao impeachment, acusando todos que apoiavam a saída da então presidente Dilma Rousselff de serem antidemocráticos. E ainda houve leitura do manifesto com a cobertura da mídia do PT[1], onde o Ariovaldo Ramos, o homem que está por trás disso tudo, deu declarações como esta: “É um privilégio como evangélico e negro ter a possibilidade de lutar contra o golpe. Nós não podemos aceitar a reconstrução de uma senzala que ainda não terminamos de derrubar”. Na ocasião, escrevi uma moção de repúdio ao manifesto[2], e disse que era um documento pró-petista redigido com linguagem velada. Mas desde que a saída de Dilma da presidência do país foi concretizada, a linguagem passou a ser desvelada, e alguns dos proponentes da Teologia da Missão Integral (TMI) - integrantes e não integrantes do Missão na Íntegra - passaram a tornar cada vez mais explícita a sua posição política, que como sempre se suspeitou, é uma posição que se coloca a esquerda do espectro político.
A revista Cristianismo Hoje, em sua edição de número 52/Ano 9 trouxe o título: "Missão Integral, Missão de Deus" na sua capa. A matéria panfletária sobre a TMI tem depoimentos de alguns de seus medalhões. Samuel Escobar ao responder como se define ideologicamente diz: “a esquerda não me assusta”. Seguindo mais adiante, fala o seguinte: “Encontro, no programa de movimentos classificados como ‘de esquerda’, preocupações e sensibilidades que estão mais de acordo com o ensino bíblico sobre uma sociedade mais justa do que os que se dizem ‘de direita’” (p.37). Ora, e quais são os representantes das esquerdas no cenário político da América Latina? Não seriam eles políticos e partidos com agendas muito distintas do que prega a sã doutrina?
Mais recente ainda, o Harold Segura escreveu um lamurioso texto[3] em que provoca os pioneiros teóricos da TMI lamentando que o povo colombiano tenha votado contra o perdão das FARC em plebiscito - que não apenas anistiaria seus integrantes, mas transformaria aquela organização criminosa e terrorista em um partido. Embora seja colombiano, lamenta também o impeachment de Dilma no Brasil e de um modo geral, vê a derrocada da esquerda e o crescimento do “conservadorismo evangélico” como sendo “em parte” culpa da irrelevância da TMI. Ora, porque será? Érika Isquierdo Paiva escreve um endosso da carta do Segura[4], e vejam só como é a sua redação: “A René, Samuel, Valdir, Juan, Tito e Pedro, entre muitxs outrxs”. Viram só isso? O “x” serve para não mais identificar o masculino e o feminino. Meus irmãos, quem é que encabeça a ideologia de gênero em nosso continente? Sim, são grupos progressistas financiados por partidos da esquerda, partidos esses que em sua maioria se identificam com os postulados de Karl Marx e os pensadores da new left.
Logo, fica evidente que quando o Missão na Íntegra (que reflete "a partir da proposta da Missão Integral") se manifesta apoiando a ocupação nas escolas, ele o faz com o compromisso de defender a sua ideologia ou o seu programa político. Pois, se defendesse o evangelho, não apoiaria certos jovens impedirem outros de estudar e prestar o Enem. E esses outros a quem me refiro são a maioria, privados de seu direito de frequentar a escola por causa de um bando de “gatos pingados”. Isso não é nem um pouco democrático, e nem é justo. Também vale ressaltar que os ocupantes são menores de idade e estão nas ocupações, em muitos casos, contra a vontade de seus próprios pais. Sendo assim, há uma desintegração familiar. Será que a missão integral não se importa com a relação harmônica entre pais e filhos? Entre preservar o quinto mandamento e subverter o patriarcado, de que lado ficará o movimento do Sr. Ariovaldo?
A matéria supracitada, da revista Cristianismo Hoje, dá a entender que as críticas feitas a TMI, que a associam as ideias marxistas, são infundadas. Há um missionário americano ligado a TMI que diz que fazer tal associação é algo "tão absurdo que eu tenho muita dificuldade de levar a sério". Mas como não entender diante de tantas falas que não são apenas parecidas, e sim idênticas as falas de qualquer líder político progressista anti-cristão? Vá na rede social de qualquer partidário do PSOL ou do PSTU, por exemplo, e veja se ele não escreve todxs, muitxs, outrxs e etc.
Reitero o que já mencionei em outras ocasiões: Considero o Pacto de Lausanne um documento ortodoxo e de grande valia para o segmento evangelical. É dele que vem a expressão “missão integral”. Todavia, lamento que a expressão tenha sido capturada por cristãos progressistas que tem um alinhamento político-ideológico com os setores da esquerda. Isto fere a própria tradição de Lausanne, pois em Junho de 1980 a Consulta de Pattaya se posicionou contrária ao marxismo, vendo-o como um sistema concorrente do cristianismo e anti-cristão. O relatório extraído desta consulta foi publicado com o título Evangelho e o Marxista, pela ABU. Foi um lançamento em conjunto com a Visão Mundial que traz outros documentos, num total de 10 livretos que compõem a Série Lausanne. A série foi recentemente reeditada, exceto, a que contém o texto de Pattaya. Como é que tentam apagar assim um documento histórico? E por quais razões?
Há gente com muita propriedade fazendo críticas sensatas e visando uma reavaliação da intoxicação ideológica que alcançou a TMI e a fez se distanciar de Lausanne. Guilherme de Carvalho, Jonas Madureira, Filipe Fontes, Yago Martins e o pessoal do Movimento Mosaico têm escritos e palestras disponíveis na internet sobre a questão. Essas críticas precisam ser feitas, pois, a Igreja precisa ficar alerta e se posicionar contra qualquer teologia que faça síntese com ideologias idolátricas. E aqui quero recomendar quatro obras que podem ajudar bastante a fazer desintoxicação política: Contra a Idolatria do Estado, do Franklin Ferreira; Visões e Ilusões Políticas, do David Koyzis, Fé Cristã e Cultura Contemporânea, de vários autores e Ortodoxia Integral, do Pedro Lucas Dulci.
Postado: 10 de novembro de 2016
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