Meriam Ibrahim conta que no Sudão as pessoas enfrentam a falta de liberdade, não só de religião, mas também de expressão
SUDÃO
Segue a penúltima parte da entrevista de Meriam Ibrahim, com trechos que contam sobre sua vida depois de casada com Daniel, seu marido.
“Você chegou a pensar que se casar com Daniel, um cristão, lhe daria todos estes problemas?”
“Nunca me veio à cabeça que algo assim aconteceria. Mesmo quando eu fui fazer a certidão de nascimento do Martin, nosso primeiro filho, eles me fizeram algumas perguntas, mas não me impediram de emitir o documento. Quando tudo começou, nos acusaram de ‘adultério’ (por abandonar o islã) e passamos um dia na cadeia, juntos. Martin, na época, tinha apenas sete meses de idade. Estávamos tranquilos, pois não tínhamos feito nada de errado. Mas o problema não éramos nós, era a lei.”
Meriam foi presa depois, na véspera de Natal, em 2013.
“Minha família pediu ao tribunal para me levarem ao médico, alegando que eu tinha problemas mentais. Eles me levaram então ao hospital, onde foi constatado não havia nada de errado comigo. Eu tinha boa saúde, cuidava bem do meu marido e meu filho e tínhamos uma vida feliz até eu ser presa. Eu tive que ser forte, não queria que Daniel me visse chorando, pois ele não podia desanimar. Eu já me sentia tão abençoada por ter ele me ajudando naquele momento. Mas então chegou o feriado de Ano Novo e me transferiram para uma prisão feminina. Passei uma semana dormindo no chão, sem visitas e nem água. Tive que pagar os guardas para comprarem leite para mim. Foi muito difícil mesmo”.
A cristã conta que, às vezes, não sentia o bebê se mexer em sua barriga.
“Eu ficava preocupada, com medo que algo estivesse errado, mas não havia a menor possibilidade de eu ver um médico. Daniel fez muitos pedidos ao tribunal, mas não conseguiu uma consulta para mim. Eu sempre quis ter uma família e um dos meus sonhos era ter 20 filhos. Mas depois que minha filha nasceu eu tive alguns problemas de saúde”.
A cristã conta ainda em entrevista que depois da prisão, ela não se surpreende com “qualquer coisa”.
“Eu estava preparada para tudo. Se eles dissessem que teria uma sentença para cumprir, eu diria ok. Mas então eu fui chamada ao escritório e eles disseram ‘você está livre’. Eu tive que perguntar a um dos guardas ‘o que ele disse?’. E ele respondeu ‘que você está liberada’. E eu somente pensei ‘ok’ e depois fiquei quieta. Após arrumar tudo, o táxi chegou, um carro de polícia estava atrás. No meio do caminho, eu podia ouvir as pessoas dizendo ‘vejam, é Mariam’. Eu só pensava que, finalmente, eu poderia dormir na minha cama, tomar um banho e comer uma refeição com a minha família”.
Mariam foi levada para a igreja, pensando ser o local mais seguro, mas depois a aconselharam a ir para a Embaixada dos Estados Unidos. Depois do caso dela, outros cristãos foram presos pelo mesmo motivo, líderes foram detidos por pregarem o evangelho e a perseguição aos cristãos continua a ser uma realidade no Sudão, o 5º país na atual Lista Mundial da Perseguição.
“Há outras questões sobre falta de liberdade no país, não somente para os cristãos, mas também para os muçulmanos. Ninguém pode falar contra o governo e os jornalistas não têm liberdade de expressão”. (A matéria continua)
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Postado: 11 de julho de 2017
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