quinta-feira, 24 de junho de 2010

Transe em escola muda a rotina de Cachoeira, no Ceará

Primeira adolescente, de 16 anos, a apresentar os sintomas



Garotos de 16 e 14 anos parecem estar possessos; psicólogas abandonam o caso


Os episódios de transe em Cachoeira, cidade do Ceará, são um desafio à população local, muito simples, que sobrevive da agricultura. No pequeno distrito, além do prédio onde funcionam as escolas, há um posto médico, um cemitério e um centro comunitário. Os evangélicos estão representados no lugarejo pela Igreja Batista Betel, mas a maior parte da comunidade segue a religião católica e freqüenta a Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Para desespero da população, foi justamente no pátio desta paróquia que a primeira aluna a manifestar o fenômeno, uma adolescente de 16 anos, voltou a apresentar os sintomas na última quinta-feira. O episódio foi o segundo na semana passada, quando a direção da escola - que suspendera as aulas por sete dias - imaginava ter a situação já sob controle. E pode ter sido o motivo que levou as psicólogas que acompanhavam os estudantes a abandonar o caso.

Na segunda-feira passada, três estudantes tinham entrado em transe – dois deles fora da escola. "Ainda não sei o porquê, mas ficamos sem o acompanhamento. Acabei de saber que as psicólogas abandonaram o caso", disse Maria Eliane Dias, na sexta-feira passada, dia em que as aulas foram suspensas novamente no distrito.

Professor da faculdade de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), o psiquiatra Adalberto Barreto, em entrevista ao Ðiário do Nordeste, se ofereceu para ajudar a desvendar o que está por trás do fenômeno. O prefeito e a diretora ainda não falaram com o médico, mas anteciparam que vão aceitar a ajuda.

COMO COMEÇOU

Uma casa simples de alvenaria, na margem da BR-020 (Brasília-Fortaleza), se tornou parada obrigatória para diferentes religiosos no distrito de Cachoeira, no Ceará. Não que ela seja muito diferente das demais que compõem a paisagem da rodovia, na altura do Sertão Central do Estado. Mas, sim, por abrigar dois protagonistas de um fenômeno que vem assustando a cidade: a primeira adolescente e o único rapaz de um grupo de estudantes que têm entrado num transe, de causas ainda não explicadas, há cerca de um mês. O primeiro aconteceu e contagiou toda a turma, numa histeria coletiva.

Rita Maria da Silva, de 51 anos, é uma das que visitam o lugar com frequência para oferecer ajuda espiritual aos irmãos, de 16 e 14 anos. A amiga da família estuda a Bíblia com os jovens, desde que eles começaram a sentir calafrios, falta de ar, dor no peito e debater-se com agressividade, falando com uma voz diferente, atribuída a espíritos. A casa também já foi visitada por espíritas e pelo pastor batista Glauber Paulino Ribeiro — que atribuiu o fenômeno a uma obsessão demoníaca e fez orações. "Sou católica e gosto de ouvir a palavra de Deus. É bonita e está nos fortalecendo. Só é ruim quando dizem que é o demônio. Não somos bichos", diz a adolescente.

O fenômeno mudou a rotina do pequeno distrito cearense, amedronta com o mistério que ainda envolve o caso e abala diretamente a família dos dois jovens. O rapaz, tímido, evita comentar o assunto. No último dia 14, no retorno às aulas — suspensas por uma semana pela direção da escola —, ele foi um dos três estudantes a apresentar, de novo, os sintomas. "Ele teve que ser levado por cinco homens para o hospital, tomou duas injeções para se acalmar e foi amarrado. Já passou mal umas seis vezes e a irmã, umas oito", explica a mãe Regina Araújo.

Regina está muito preocupada com a filha, a mais velha de sete irmãos: "Ela está toda machucada de se debater no chão e envergonhada. Diz que as amigas se afastaram. De vez em quando, fala: “Mãe, vão dizer que a gente é doido”.

Diretor geral do Hospital Regional São Francisco de Assis, em Canindé, Reginaldo Ferreira da Costa condena a exposição dos alunos: "Ela retroalimenta a ansiedade dos jovens". "Perdi a conta de quantas vezes minha filha foi para o hospital. Ela está passando mal há dois meses, mas antes só desmaiava. Disseram que era fraqueza, porque queria ficar com corpo de modelo, bucho (gravidez) e coração. Aí começou a acontecer o transe na escola e com outros alunos. O padre diz que é da mente, mas não acredito. Quatro homens tiveram que segurá-la! Até em casa, ela diz que vê um vulto sem rosto", diz Regina, a mãe dos jovens.


Fonte:http://www.jneweb.com.br/
Postado em 24 de junho de 2010

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